O Rio Grande do Sul pode sofrer, nos próximos meses, os efeitos de La Niña. De acordo com os modelos de previsão do International Research Institute for Climate and Society (Iri), utilizados pelo Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do estado (Copaaergs), a probabilidade de que as condições para o fenômeno climático iniciem durante a primavera de 2021 e permaneçam até o verão 2021/2022 está acima de 70%.
O prognóstico para outubro indica redução da chuva e aumento da temperatura durante o dia, o que gera um aumento da evapotranspiração, especialmente na segunda quinzena do mês. Em novembro, o cenário deve ser semelhante, com predomínio de noites mais frias e dias mais quentes. Já para dezembro são esperados padrões de chuva e temperaturas mais próximos da média.
El Niño x La Niña
O La Niña é um fenômeno climático oposto ao El Niño. A principal característica dele é o resfriamento da superfície das águas do Oceano Pacífico Equatorial.
Segundo o estudo, desde as duas últimas semanas de agosto de 2021, as anomalias negativas vêm se intensificando e apresentando um valor médio mensal de -0,5°C. Contudo, para confirmação, é necessário que haja a persistência de anomalias negativas iguais ou inferiores à -0,5°C durante, no mínimo, cinco trimestres móveis consecutivos.
No Brasil, o La Niña deixa as regiões Norte e Nordeste mais chuvosas e menos frequentes no Sul. Outra característica é deixar as temperaturas mais amenas e o clima mais seco no Sudeste e no Centro-Oeste.
Dicas sobre culturas
O Copaaergs orienta os agricultores a seguirem recomendações básicas, como observar a rotação de culturas, descompactar o solo, monitorar doenças e pragas e investir em sistemas de irrigação e armazenamento de água. Além disso, dá dicas específicas para determinadas culturas.
Culturas de outono-inverno (grãos): Considerando o prognóstico de precipitações dentro da normalidade no mês de outubro e abaixo da normal em novembro, seguir monitorando a ocorrência de doenças de final de ciclo e incidência de pragas, bem como observar se há necessidade de aplicações de defensivos agrícolas.
Arroz: dimensionar a área a ser semeada conforme a disponibilidade de água dos reservatórios; dar continuidade à adequação das áreas que ainda não estão preparadas para possibilitar a semeadura na época recomendada pelo zoneamento agrícola, para aproveitar as melhores condições de radiação solar e evitar ocorrência de baixas temperaturas do ar no período reprodutivo da cultura; escalonar a época de semeadura de acordo com o ciclo da cultivar, primeiro as de ciclo longo, seguidos das de ciclo médio e precoce; para semeaduras realizadas até meados de outubro, quando a temperatura do solo é baixa, atentar para que a profundidade de semeadura não seja superior a 2 cm, a fim de evitar redução no estande de plantas e a consequente desuniformidade no estabelecimento inicial da cultura.
Milho, soja, feijão: escalonar a época de semeadura e utilizar genótipos de diferentes ciclos ou diferentes grupos de maturação para evitar eventuais perdas em função de deficiência hídrica no período crítico, sempre respeitando o zoneamento agrícola; para as culturas do milho e do feijão, iniciar a semeadura quando a temperatura do solo a 5 cm de profundidade estiver acima de 16°C e houver umidade adequada do solo; para cultura da soja, somente iniciar a semeadura quando houver umidade adequada do solo, evitando a semeadura quando houver a previsão de chuvas intensas; no plantio direto, fazer o manejo de culturas de inverno voltadas para a proteção do solo e manutenção da umidade no solo; irrigar sempre que necessário e dar preferência à irrigação nos períodos críticos da cultura (florescimento – enchimento de grãos); para o cultivo da soja em terras baixas é indispensável a drenagem. Entretanto, em anos de estiagem, é importante atenção quanto ao manejo da irrigação, pois os solos são rasos e argilosos.
Hortaliças: O prognóstico de temperaturas próximas ou ligeiramente abaixo da média na primavera sinaliza para desenvolvimento adequado de cultivos, especialmente aqueles que apresentam expressão sexual influenciada pela temperatura do ar, como é o caso das cucurbitáceas. Considerar que devem ser respeitados os demais fatores ambientais que atuam sobre essa expressão (ex.: umidade do solo, nível de fertilidade e densidade populacional); o prognóstico de precipitações pluviais um pouco abaixo da média requer atenção quanto à necessidade de irrigação, a qual deve, preferencialmente, ser realizada via sistema de gotejamento, que apresenta melhor eficiência de uso da água; para cultivos em ambiente protegido (túneis e estufas), realizar o fechamento ao final do dia (especialmente no mês de novembro, quando há prognóstico de temperaturas mínimas abaixo da média) e proceder à abertura pela manhã, evitando aumento excessivo da umidade relativa e da temperatura do ar no ambiente interno dos abrigos.
Fruticultura: Em pomares nos quais houve eventual perda de estruturas de frutificação e frutos em função da ocorrência de geadas, principalmente em fruteiras de caroço de ciclo precoce, adotar o manejo usual do dossel vegetativo em relação a podas e aplicações de defensivos químicos, a fim de assegurar a produção da safra seguinte; em pomares de rosáceas onde as condições meteorológicas (precipitações pluviais intensas e frequentes, baixas temperaturas o ar e nebulosidade) afetaram a polinização, conduzir práticas de manejo para manter o equilíbrio do dossel vegetativo e a produção; na ocorrência de danos por granizo, atentar para os manejos fitossanitários e fitotécnicos (poda e nutrição), visando recuperar as plantas para os ciclos seguintes; preservar a cobertura verde da área para conservação do solo e armazenamento de água no solo; recomenda-se a prática do raleio para ajuste da carga de frutos, conforme as orientações técnicas de cada região/cultivar, para garantir o desenvolvimento e maturação adequados dos frutos; seguir o manejo fitossanitário recomendado para a cultura, dando atenção ao monitoramento de pragas e doenças. Em períodos mais secos, recomenda-se uma maior atenção no monitoramento e controle de ácaros e oídio. Evitar inseticidas pouco seletivos que afetam os inimigos naturais dos insetos; o prognóstico de precipitações um pouco abaixo da média requer atenção quanto à necessidade de irrigação que deve, preferencialmente, ser realizada via sistema de gotejamento, especialmente no estabelecimento de novos pomares, para evitar a perda de mudas.
Silvicultura: adequar o manejo florestal, considerando a possibilidade de precipitação pluvial abaixo da média climatológica; em povoamentos florestais, deve ser evitada a adubação mineral ou orgânica com elevadas concentrações de nitrogênio; para produção de mudas florestais em céu aberto, caso o viveirista tenha necessidade de aplicar fertilizantes, deve aumentar a relação potássio/nitrogênio da formulação mais indicada para cada espécie e estádio; caso o produtor florestal tenha necessidade de realizar o plantio no trimestre outubro/novembro/dezembro, as mudas florestais devem apresentar um sistema radicular bem formado, para garantir maior sobrevivência no campo.
Forrageiras: considerando o prognóstico de precipitação abaixo da media climatológica, especialmente em novembro, promover a manutenção da cobertura de solo e de boa disponibilidade de forragem, adequando a lotação animal ao crescimento do pasto; indica-se manter a lotação animal reduzida nas pastagens de azevém, para garantir boa ressemeadura natural no próximo ano; escalonar os períodos de plantio/semeadura das pastagens cultivadas no verão utilizando mudas/sementes de alto vigor; indica-se fazer silagem/feno de cultivos e pastagens de inverno, visando garantir maior disponibilidade de alimento no verão para as categorias de rebanhos mais exigentes, tendo em vista que o prognóstico de precipitação abaixo da média climatológica pode afetar o crescimento e desenvolvimento das pastagens.
Piscicultura: considerando o prognóstico de precipitação pluvial abaixo da média, especialmente em novembro, o produtor de peixes deve procurar manter o nível de água dos viveiros.
Fonte: G1/RS
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