Polícia investiga presença de arsênio no sangue das vítimas e apura possível contaminação do alimento
Uma mulher foi presa neste domingo (5) por suspeita de envolvimento no caso do bolo que resultou na morte de três pessoas em Torres, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul (RS). A polícia não divulgou a identidade da suspeita nem as circunstâncias exatas de sua detenção. Ela teve a prisão temporária decretada por triplo homicídio duplamente qualificado e tripla tentativa de homicídio duplamente qualificada, sendo conduzida para a Delegacia de Polícia de Torres e depois ao Presídio Estadual Feminino de Torres.
Três mulheres da mesma família morreram após consumirem o bolo: as irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva, e a filha de Neuza, Tatiana Denize Silva dos Anjos. Segundo a polícia, exames realizados indicaram a presença de arsênio no sangue das vítimas e de outros sobreviventes.
Investigação e relatos
De acordo com o delegado Marcos Vinícius Veloso, responsável pelo caso, as pessoas que consumiram o bolo notaram um gosto apimentado e desagradável no alimento. Zeli dos Anjos, que preparou o bolo, teria interrompido o consumo ao perceber as reclamações. A maior concentração de arsênio foi encontrada no sangue dela, que segue hospitalizada na UTI em estado estável.
Outros sobreviventes incluem uma criança de 10 anos, que recebeu alta na sexta-feira (3), e o marido de Maida, que também foi hospitalizado e já se recuperou. O marido de Neuza, que não comeu o bolo, não apresentou sintomas. A polícia informou que a família não tinha histórico de disputas ou conflitos que pudessem indicar motivação para o crime.
Laudos e análises
Os laudos periciais no bolo, previstos para a próxima semana, poderão determinar se houve contaminação cruzada ou outra origem do veneno. Até o momento, as hipóteses de envenenamento intencional e intoxicação alimentar seguem sendo investigadas. A Polícia Civil já ouviu cerca de 15 pessoas relacionadas ao caso e aguarda os resultados das necropsias realizadas pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP).
Arsênio: o que é e como age
Conforme o professor André Valle de Bairros, especialista em Toxicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o arsênio é um elemento químico altamente tóxico. A forma mais perigosa, o trioxído de arsênio, pode ser letal em concentrações superiores a 100 mg. Apesar de já ter sido usado como raticida, seu uso é atualmente restrito no Brasil para fins quimioterápicos em tratamentos oncológicos.
"A toxicidade do arsênio é amplamente reconhecida. Embora existam casos de contaminação ambiental por arsênio em água, alimentos ou solos, a exposição a altas concentrações não significa automaticamente intoxicação. Esse caso requer uma investigação rigorosa", afirmou Bairros.
Contexto do caso
No dia 27 de dezembro, sete pessoas da mesma família estavam reunidas em Torres para um café da tarde quando começaram a passar mal. Três mulheres morreram poucas horas depois, com causas relacionadas à intoxicação alimentar. A polícia continua apurando o caso e aguarda a conclusão dos laudos para avançar nas investigações.
Comments